Subproduto do etanol de milho começa a ser usado como substituto de milho e farelo de soja.
Normalmente utilizado em substituição a com ponentes proteicos em rações para confinamento, o DDG – sigla em inglês para grão seco de destilaria, subproduto da produção de etanol de milho – começa a ser usado também como suplemento proteico em dietas de recria intensiva e também de terminação a pasto. A prática é favorecida, por enquanto, em regiões do Mato Grosso, onde estão localizadas quatro usinas produtoras de etanol de milho, matéria-prima abundante no Estado (maior produtor nacional, com 26 milhões de toneladas previstas para esta safra). Mas o milho não é o único componente concentrado que integra as rações e seu preço tem sido puxado para cima pelo da soja – e seus derivados -, em função de vários fatores conjunturais. Diferentes trabalhos de pesquisa demonstram, porém, que a partir de um determinado nível de preço, o subproduto é bastante vantajoso.
Um desses trabalhos vem sendo conduzido pela Unesp de Jaboticabal, em projeto financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e intitulado “Estratégias de manejo para redução dos impactos ambientais de sistemas de produção de gado de corte”. Sob orientação do professor Ricardo Reis, titular do Departamento de Zootecnia daquele campus, o doutorando em zootecnia Eliéder Prates Romanzini conclui que até o preço de R$ 430 por tonelada o DDG é “economicamente viável, em comparação com o suplemento utilizado outros ingredientes, quando substitui totalmente a fonte de proteína tradicional”.
O trabalho da Unesp teve início em 2015, em parceria com a empresa de nutrição Trouw Nutrition, com animais de recria, no período das águas, com nível de utilização de DDG variando entre 30% e 41% da matéria seca de suplemento proteico-energético, em substituição aos farelos de caroço de algodão (anos 2015/2016) e de soja (anos 2017/2018), e fornecido a tourinhos Nelore na proporção de 0,3% do peso corporal. “O resultado em ganho de peso médio diário variou de 900 gramas a 1,1 kg, semelhante ao dos animais que consumiram aqueles farelos, mas superior ao dos animais que receberam só mistura mineral (800 g)”, registram os autores. Além disso, eles também concluem que essa suplementação proteico-energética, de baixo consumo, durante o período das águas, favorece uma adaptação mais rápida dos animais a dietas de confinamento convencional e também melhora o rendimento de carcaça dos animais (próximo dos 54%) quando chegam ao abate. O DDG também foi testado em terminação a pasto, no período seco.
No período seco
Resultado semelhante foi obtido em outro estudo, que serviu de tese de doutorado de Adriano Jorge Possamai, sob orientação do professor Joanis Tilemanhos Zervoudakis, da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Mato Grosso. Também com animais de recria, mas desta vez no período seco do ano e com um percentual maior do peso corporal (de 0,4%) , com o DDG substituindo milho e farelo de soja. A conclusão do trabalho, que testou três níveis de inclusão do subproduto do etanol, foi de que o DDG pode entrar como fonte proteica em até 90% da matéria seca da dieta, proporcionando ganho de peso (910 gramas/cabeça/dia) semelhante ao obtido com os ingredientes tradicionais (860 gramas/cabeça/ dia), só que com um custo mais baixo (R$ 60 a menos por cabeça, em relação ao lote que não recebeu DDG).
O professor Joanis informa que o experimento, conduzido entre maio e agosto de 2016, no setor de bovinos a pasto da UFMT, em Santo Antônio do Leverger, com 48 machos Nelore inteiros, de 24 meses de idade e peso em torno dos 428 kg, contava com um pasto de braquiarão de boa qualidade, com média de 5,7 toneladas de matéria seca no período, o que, junto com o valor nutricional da dieta proteico-energética (33% de proteína bruta e 74% de NDT), permitiu que os animais chegassem aos 500 kg. “Essa suplementação funcionou como uma recria intensiva, que permite tanto o abate dos animais, mais leves, como seu encaminhamento para uma terminação tipo confinamento a pasto ou confinamento tradicional, onde poderão ser terminados mais pesados”, avalia.
Ele faz apenas uma ressalva: a necessidade de se observar a correta adequação da dieta quanto ao aporte de proteína degradada no rúmen, para que não haja redução na digestibilidade e no consumo do pasto pelos animais. Como no trabalho conduzido pela Unesp de Jaboticabal, o estudo da UFMT ratifica a viabilidade econômica do DDG, quanto mais perto o produtor estiver da usina de etanol de milho. O professor Ricardo Reis, da Unesp, chama a atenção para dois aspectos: a padronização do produto e sua baixa densidade. “Como as indústrias têm diferentes métodos de secagem do DDG, esse aspecto tem de ser observado, sob pena de o produtor ter problemas, como, por exemplo, algum tipo de contaminação. Quanto à densidade, ela torna o transporte caro”, diz ele, exemplificando que uma carga de 22 toneladas de DDG que a universidade comprou ocupou todo o espaço de um caminhão com capacidade para 28 toneladas.
A empresa de nutrição Nutripura, de Rondonópolis, tem recomendado a seus clientes o uso de DDG tanto nas águas como na seca, como fonte proteica na dieta, tendo como parâmetro os preços do milho e da casquinha de soja, os dois maiores supridores de energia nas dietas.
Segundo o engenheiro agrônomo Felipe Coral Voltani, supervisor de pós-venda da Nutripura, o DDG pode funcionar, nas águas, como complemento do pasto, em caso de altas lotações (a 0,3% do peso vivo), ou na seca, apenas como suplemento, visando melhorar o desempenho individual dos animais, com fornecimento variando de 0,6% a 1% do peso vivo.
“O DDG é mais caro do que o milho aqui no MT”, diz Felipe. Em Rondonópolis, informa ele, a tonelada custa entre R$ 400 e R$ 450; com o milho cotado a R$ 26/saca (de 60 kg), a tonelada do grão sai por R$ 435. Neste caso, a recomendação da Nutripura é usar o mínimo possível do subproduto, apenas para fechar a necessidade de proteína do animal na dieta. Agora, se o DDG estiver mais barato do que o milho, a recomendação é utilizá-lo no lugar do grão como fonte de energia.
Voltani informa que a empresa conta com esse subproduto na formulação de dietas de seus clientes há quatro anos. E há dois vem utilizando uma nova formulação do DDG, chamada de “ouro”, produzida pela usina Fiagril, de Lucas do Rio Verde: ela tem mais fibra e um pouco menos de proteína (20%) e de energia (85% de NDT) do que o DDG normal, que tem 30% de P.B. e 89-90% de NDT. “Na dieta com o DDG tradicional, a proporção é de 10 a 20%, enquanto que com o “ouro” ela pode variar de 15 a 40%, ficando numa média de 25%”, informa.
Fonte: PORTAL DBO
Por: Por Moacir José